Hei, Luiza, Alivia a minha canela, por favor...
Ela entrou com cara de poucos amigos. Os lábios bem vermelhos
deixando claro que foram pintados pela própria. Sentou-se do meu lado no metrô.
_ Vou
sentar sozinha!
Na virada de corpo para sentar a bolsa cheia de bonecas quase acerta o meu
estômago. Puxou de volta para junto dela e me olhou de rabo de olho. Como se
fosse uma espécie de pedido de desculpas.
Aquele projeto de gente não deve ter mais que cinco anos. A mãe chamou.
_ Vem pra
cá! _a mãe, que deveria estar na casa dos 20, não estava com essa moral
toda, pois a baixinha olhou para ela, fez um bico destacado pelo batom
vermelho, cruzou os braços e continuou sentada ao meu lado.
_ Tá que
eu vou! _ falou baixinho. Não o suficiente para eu não ouvir.
Ela começou a balançar as pernas. Primeiro para frente. Depois em todas as
direções. E a minha canela virou alvo do bico do sapatinho que usava. Foi uma
das poucas vezes que a vi sorrindo, mesmo que disfarçadamente, quando sentiu
que a minha canela foi vítima do seu balançar de pernas.
Mas não havia como reclamar daquela coisinha miúda e com aquele jeito sapeca,
que olhava para a mãe com cara de poucas amigas e para mim com um sorriso
maroto que desmontaria qualquer um.
_ A minha
mãe as vezes é muito chata. _ Falou baixinho novamente. Mais uma vez não tão
baixo que eu não pudesse ouvir.
Enquanto eu estava indo para mais um plantão de fim de semana, aquela coisinha
estava indo, não sei para onde, com uma bolsa cheia de bonecas e cheia de
bronca com a mãe. Até agora estou sem saber o motivo. Mas, depois de ter a
canela atingida pela quinta vez pelo bico do sapato dela, não resisti e ao ler
o nome dela na pulseira falei:
_ Hei, Luiza,
alivia a minha canela.
Mais uma vez consegui desmontar aquela carinha fechada e tirei um pequeno
sorriso.
Chegou a hora de saltar, ela levantou-se, colocou o nariz para cima e ia em
direção à porta, quando a mãe falou firme:
_ Espera,
Luiza.
Ela parou, sem olhar para a mãe, apenas esticou a mão para ela e lá foram as
duas. A pequena Luiza ainda olhou para trás e sorriu como que estivesse rindo
dos bicos na canela que me deu. E eu fiquei pensando:
_ Se aos
quatro ou cinco é assim, coitada dessa mãe quando ela tiver 12 ou 13...
O metrô,
realmente, é um lugar farto de historinhas. Eu que o diga...
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