A gordinha
e a provação no provador
Faltavam poucos dias para o casamento
da "amiga". Ela precisava comprar uma roupa para "abafar".
Só havia um problema: estava acima do peso. De acordo com o Pitu:
_ Em uma
escala de 1 a 10, ela estava 11 acima do peso.
E olha que ela tentou de tudo, dieta da lua, dieta do sol, dieta do universo
inteiro, até do “buraco negro”, que, inclusive, foi flagrado arrotando dia
desses. Apelou até para a macumba, mas, nada. Não perdeu um grama. A balança do
banheiro continuava marcando o mesmo peso. Ela experimentou até mesmo a
"tática do saci", subindo nela em um pé só. Mesmo peso.
_ Balança
dos infernos...
Precisava de uma roupa de arrasar no casamento. Mas por enquanto, estava apenas
arrasada com o que a balança e o espelho lhe diziam.
_ Os
prazeres da mesa são o pesadelo do vestuário. _ falava com os seus botões.
Mesmo assim, foi para a loja e logo de cara se apaixonou por um vestido. Tudo
bem que o número que escolheu era menor que o seu. Mas ela iria experimentá-lo
de qualquer forma. Seria a “Dama de Vermelho” do casamento da amiga. Chamaria mais
a atenção do que a noiva, pensava.
_ É pra
você? – perguntou a vendedora meio que espantada. _ Não prefere um número
maior?
_ Maior só
se for para enrolar no seu pescoço e apertar. _ ela pensou. _ Não. É este
mesmo. Minha irmã não pode vir e pediu para eu comprar para ela.
E lá se foi para o provador. Colocar aquele vestido seria um desafio. Era como
se todos os americanos resolvessem, ao mesmo tempo, morar no México. É
claro que muitos "ficaram de fora". Se é que me fiz entender.
Tentou vestir pelas pernas. As coxas atrapalhavam. Tentou pela cabeça. O
entrave agora era nos seios. Ela se debatia na cabine como a garota do filme
"O Exorcista", na cama. Só faltava girar a cabeça.
_ Algum
problema? – Perguntou a vendedora ao ver o provador balançar como uma ponte
durante um terremoto.
_ Nenhum.
Pode atender outras clientes – respondeu entre os dentes. _ Vendedora metida...
_ sussurrou.
Após se debater, chorar, espernear, se jogar no chão, como se fosse um milagre
conseguiu colocar o vestido. Estava perfeito. Perfeitamente apertado. Mal
conseguia se mexer. Parecia que estava em um vagão do Metrô na hora do Rush.
Respirar, nem pensar. Nunca pensou que conseguiria prender a respiração (mesmo que forçadamente) durante tanto
tempo.
_ Me Deus.
Permita que eu consiga tirar este vestido. Prometo passar a assistir missas
todos os domingos.
Ainda bem que o tecido do vestido era do tipo que esticava, pois, pela força
que ela fez para colocá-lo e depois para tirá-lo, era de se espertar que se
rasgasse como a roupa do Incrível “Hulk” durante a transformação.
A batalha quase insana que se desenrolava no provador era digna de um filme de
ação de Hollywood ou de uma "sessão de descarrego" de alguma igreja
neo pentecostal.
_ Sai
vestido do capeta, que este corpo não lhe pertence.
Arrependeu-se de ter trancado a matricula na academia. Arrependeu-se de todos
os doces e chocolates que comeu. Estava tão desesperada que cogitou até chamar
a “metida da vendedora” para socorrê-la. Mas pensou.
_ E se ela
chamar os Bombeiros? A imprensa? Amanhã os jornais vão estampar a manchete: “gordinha”
morre “entalada” em vestido de gala, dentro de provador de loja do subúrbio.
Depois de se esticar e se contorcer mais que praticante de ginástica rítmica,
conseguiu, milagrosamente, se livrar do vestido. Levou pelo menos 30 minutos
para recuperar o fôlego.
Finalmente havia se livrado daquele pesadelo. Agora como faria com a “metida da
vendedora”? Não podia perder a pose.
_ Ficou
bom?
_ Bom
seria dar um soco na sua cara. _pensou._Ficou. Mas vou levar um número maior. É
para a minha irmã. Não gostei muito do modelo, mas sei que ela vai adorar.
Deixou a loja sem olhar para trás. Não
queria ver novamente aquele sorriso de canto de boca da “metida da vendedora”.
E precisava colocar gelo nos hematomas adquiridos durante aquela verdadeira “batalha”
no provador. Estava mais marcada que lutador de MMA depois do embate.
Moral da
história: Não tente colocar os EUA dentro do México. Vai faltar “tequila” e
sobrar clientes...
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