Fica quieta, Mariana.
Praça de
alimentação de shopping é um terreno fértil para quem estuda sociologia ou
psicologia, pois diversos são os tipos que circulam por ela. Outro dia, a
sessão de cinema terminou mais cedo que o previsto, por isso, foi fazer um
lanche antes de ir para o trabalho.
A primeira
coisa que me chamou a atenção foi um casal na casa dos 30 (um pouco mais ou um
pouco menos. Se o IBOPE pode ter essa dúvida, por que não eu?), que resolveu
ter uma DR em público. Bom, aquilo que eles fizeram, na periferia não se
chamaria DR, mas sim LRSP: Lavagem de Roupa Suja em Público.
_ A coisa mais suave que um falava para o outro era: “sua mãe
faz favores sexuais mediante remuneração”. Ou “o seu pai tem mais galhos na
cabeça que a Floresta Amazônica”.
E olha que estávamos em um dos mais conceituados shoppings da Zona Sul do Rio de Janeiro. E quem disse que aquilo intimidou o casal de gladiadores...
E, pelo visto,
eles continuavam juntos. Ou seja, aquilo literalmente poderia ser chamado de “dormindo
com o inimigo”. Poderia jurar ter visto um “rosnando” para o outro quando foram
embora. E pensar que ali, algum dia houve “juras de amor eterno”...
Depois, a minha
atenção foi desviada para uma senhora bem velhinha. Imagine a sua avó. Pois é.
A senhora, facilmente seria mãe dela. A princípio, pensei que ela estava
manipulando um Iphone, mas, devido à idade dela, calculei que não eram compatíveis.
Um dos dois iria bugar. Ou ela ou o aparelho. Apostaria na senhorinha.
Mas ela estava
lendo um livro. E isto em voz alta. E quando falo em voz alta, você deve
amplificar.
_ Sorte da vovozinha que não era um romance erótico. Pois,
pelo volume da leitura dela, teríamos naquela praça de alimentação “50 Tons de
Caras Vermelhas”...
Mas a campeã da
noite foi ela. Gorduchinha, cabelos encaracolados, roupa branquinha. Parecia um
anjinho. Mariana chamava a atenção de todos. Corria de um lado para o outro para
desespero da Mãe, que tentava inutilmente colocar um freio naquele motorzinho
de três anos que estava ligado no 220.
_ Fica quieta, Mariana!
E quem disse
que ela ficava. O único breve momento em que ela ficou quieta foi quando chegou
a refeição da qual ela deve ter comido dois terços e logo depois voltou a fazer
o que mais queria: “bagunça”. As gargalhadas gostosas dela ecoavam naquele local.
Primeiro
começou a lançar arroz do prato dela em todas as direções. Houve gente que deve
ter ficado mais coberta de arroz que noiva em casamento. E tome daquele anjinho
(roupa e cabelos lembravam muito, mas o comportamento explicava o motivo de ela
ter “caído do céu”) ficar correndo de um lado para o outro entre as mesas da
praça de alimentação. Acho que se a Mariana tivesse uma irmã gêmea com o mesmo
temperamento, certo seria que a mãe iria pedir asilo diplomático na casa da
sogra.
E lá ia a
Mariana correndo em direção ao banheiro com a mãe atrás, enquanto o pai só
ficava observando da mesa, como se ele não tivesse nada com isso. Era um
verdadeiro paxá. Algum tempo depois vem Mariana sacudindo as mãos, com aquele
sorriso encantador, que tirava qualquer um do sério. Ao passar perto de mim,
aumentou o sorriso e fez da minha perna toalha para sacar as mãos. Primeiro as
palmas, depois as costas.
A Mãe, surpreendida
pela atitude da filha, não sabia o que falar primeiro.
_ Mariana? _ sem graça olhou para mim e disse _ Desculpe,
moço. Ela hoje está terrível.
Pensei com os
meus botões.
_ Duvido. A Mariana deve ser terrível todos os dias.
Bom, deu a
minha hora e eu levantei para ir embora. Olhe para a mesa daquela família e vi
mais uma vez a Mariana com aquele sorriso que deveria ser, por lei, permanente,
de tão bonito e espontâneo. Acenei para ela, que levou a mão à boca e mandou um
beijo. Dei as costas e já estava na escada rolante, quando ouvi pela ultima vez
a voz da mãe dizendo:
_ Fica quieta, Mariana...
Praça de
alimentação de shopping... É realmente um lugar inspirador...
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