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quarta-feira, 25 de março de 2015

DA SÉRIE: HISTORINHAS DO BIFÃO...

A quarentona da academia e os meniscos perdidos.

Quem acompanha futebol sabe que jogador vive lesionando menisco. Para quem não sabe, é uma cartilagem que amacia os impactos no joelho. Volta e meia tem um jogador retirando os meniscos.
         Ela foi para a academia e queria resultados imediatos. Nada de longas aulas para atingir o corpo perfeito. Quando o professor orientava para que ela fizesse duas séries fazia três. Se especificava o peso ela sempre aumentava ou, muitas das vezes, dobrava. Havia passado dos 40 e tinha na cabeça que, para mulheres a partir dessa idade, é mais difícil perder peso. Por isso apelava.
_ Não quero saber se o exercício é bom para bíceps, tríceps, dorsal, ou seja, lá o que for. Quero e perder peso e ter o meu corpo de volta. O atual “não me pertence”.
         Corria feito uma desembestada na esteira e ficava mais suada que churrasqueiro no verão. Na bicicleta ergométrica levava tanto tempo que dava para uma volta no Rio de Janeiro inteiro.
         Um dia desses ela exagerou em um dos aparelhos e as vítimas foram os joelhos. Os dois ao mesmo tempo. Viu estrelas, satélites, Neil Armstrong andando na Lua. O grito que ela deu nenhum filme de terror conseguiu reproduzir até hoje. Se fosse gravado, com certeza poderia ser presença marcante em qualquer produção do gênero, em Hollywood.
         Claro que todos correram em direção a ela para ver o que havia acontecido. Logo os joelhos se transformaram em dois “melões vermelhos”. Uma amiga tentou ajudar tentando dar um jeito neles, mas foi severamente ameaçada:
_ Se tocar nos meus joelhos novamente garanto que o seu marido vai ficar viúvo. _ disse entre os dentes enquanto fazia força para não chorar. Seria pagar mais mico do que já estava pagando.
         A dor era muito grande. Imaginou-se morta e no inferno. Diante dos pecados que cometeu, agora estava sendo punida pelo “capeta” que lhe enfiava os “tridentes” nos joelhos. E os tridentes ainda estavam em brasas...
         O professor ficou espantado com a quantidade de pesos que havia colocado no aparelho. Mas quando os olhares se cruzaram ela pensou:
_ Pô, véi. Eu com uma dor dos infernos aqui e você vai querer me dar bronca por causa de 20 quilos a mais ou a menos?
         Como se houvesse captado a mensagem, o professor se calou. Mas ela imaginou que, mentalmente, ele estava dizendo:
_ Bem feito, sua vaca teimosa.
         Foi levada às pressas para uma clínica ortopédica. Colocada em uma cama e ficou aguardando a chegada do ortopedista. Nunca desejou tanto estar indefesa em uma cama a espera de um homem. Quando o médico chegou seus pensamentos mudaram completamente. Ele começou a manipular os joelhos “magoados” dela. As dores eram lancinantes.
_ Dói muito? _ perguntou o doutor.
_ Não miserável. Deixe-me apertar com vontade as “suas coisinhas” aqui em baixo e você responde se dói. _ pensou enquanto as lágrimas rolavam.
         A dor era tanta que ela prometeu ir a todos os centros de macumba da cidade e colocar o nome daquele médico na boca do sapo, do gato, de qualquer bicho. O negócio era se vingar de todas as dores que ele a estava submetendo. Se pudesse colocaria também no SPC e no SERASA.
         O Olhar dela trouxe piedade ao médico que mandou que lhe aplicassem algo que ela pensou ser morfina ou qualquer coisa da "família". Em pouco tempo as dores desapareceram como por encanto. O médico começou a se parecer com um palhaço que sempre lhe assustava durante os sonhos da infância. Por falar na infância, ela começou a ver os “dragões” que sempre apareciam na parede quando a sua mãe apagava a luz. Mas ao contrário da época de criança, agora eles eram motivo de riso. Ela sorria descontroladamente.
_ Que porcaria foi essa que esse filho da mãe me deu? _ pensou, enquanto agia da mesma forma como agiu ao tomar o primeiro porre, aos 17 anos. _ Gostei disso. Depois, vou pedir para alguém me dar a receita.
         Estava tão “ligada” por causa do que lhe foi aplicado, que, quando foi colocada para fazer a ressonância magnética, virou-se para o operador do aparelho e perguntou:
_ Quem lhe deu autorização para me amarrar? Eu li “50 Tons de Cinza”, safadinho. 
Mesmo sobe efeito da “droga” ainda tinha um pouco de consciência e pensou que nunca mais iria poder voltar àquela clínica, depois de todas as besteiras que disse e fez.
         Passou por cirurgia, retirou os “doloridos meniscos”. Ficou um tempo de molho e, depois, fez sessões que pareceram intermináveis de fisioterapia. Finalmente, foi autorizada a voltar para a academia, mas sempre com a recomendação de não forçar tanto os joelhos. O pior de tudo foi ouvir do médico:
_ Você não está mais na idade de exagerar.
_ Vou exagerar metendo a mão na sua cara, palhaço _ pensou enquanto sorria amarelo para o médico.
         Quando chegou à academia parecia uma celebridade. Todo mundo querendo abraçá-la saber como estavam os joelhos. Aí veio o inevitável encontro com o professor. Os dois se olharam por alguns instantes.
_ E aí? Pronta para seguir as minhas orientações? _perguntou ele com um tom de provocação.
_ Claro. _ disse sem graça enquanto pensava em como apertar o pescoço dele sem ser acusada de homicídio.
_ Lembre-se que depois dos 40 a perda de peso é mais lenta, principalmente, para as mulheres.
         Mais uma vez ela sorriu sem graça e foi acompanhando o professor imaginando como um peso de 20 quilos cair sobre a cabeça dele soaria como um “infeliz incidente”.

        Mas, no fundo, sabia que ele tinha razão. Não poderia exagerar. Porém, mesmo assim, o sujeito não tinha o direito de ficar falando da idade dela. Por isso, iria estudar com carinho a “hipótese do acidente com o peso sobre a cabeça dele”...

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