Hora Certa do Bifão

ACOMPANHE O BIFÃO NO TWITTER

terça-feira, 11 de novembro de 2014

DA SÉRIE: HISTÓRIAS DO BIFÃO....

Presos no elevador

Quando entrei naquele elevador algo me dizia que não ia da certo. Muita gente. Uma senhora com o bebê no colo. Uma senhora bem acima do peso. Uma madame exalando riqueza por todos os poros. Um baixinho que era boy de uma empresa das redondezas, um senhor que deveria ser advogado. Aquele elevador estava quase no limite. Olhei para todos os lados e consegui me colocar no cantinho...
Pow.
Um único tranco e ele parou. Entre o nono e o décimo andar. As pessoas se entreolharam como se perguntando o que teria ocorrido. Agora imaginem. Pessoas de todas as classes vivendo o mesmo drama. Ficarem presas no elevador.
Foi aí que eu olhei para o baixinho. Parece que o drama dele era maior do que o de todo mundo. O cara suava bicas. Aquilo só podia significar uma coisa. E ele fez os meus piores pensamentos se tornarem reais:

_ Aquele mocotó de ontem não caiu bem! _ disse ele passando a mão na barriga.
_ Jesus! _ pensei _ Faz com que consertem logo este elevador, pois temo que o pior aconteça com o baixinho e, por consequência, com nos todos.
O tempo se arrastava. Por mais que se apartasse o botão de emergência. Nada. E o baixinho já se contorcendo.
_ Aguenta firme, meu camarada. _ Tentei ser solidário.
_ Tá difícil chefe. _ disse ele quase em lágrimas.
O baixinho parecia uma cachoeira de tanto que suava. Fosse ele colocado lá em São Paulo abasteceria o Sistema Cantareira por vários anos.
A princípio somente eu estava ciente do drama do baixinho. Mas em pouco tempo ele já começava a emitir sinais do que estava ocorrendo.
_ Meu Deus, o que é isto? _ a madame foi a primeira a perceber.
_ Ele comeu mocotó ontem._ disse eu para ela.
_ Pelo aroma, ele comeu foi um urubu em putrefação. _ disse aquela que estava acima do peso.
A coisa parecia que iria melhorar quando ouvimos a voz do lado de fora:
_ Tenham calma. Estamos tentando providenciar o conserto do elevador.
_ Sejam rápidos. O ar aqui está começando a lembrar o da Baía de Guanabara nos piores dias _ Disse aquele que parecia ser advogado.
E tome o baixinho mandando sinais da possível “erupção”. Tive a impressão de que o bebê parou de mamar e usou a blusa da mãe para tapar o nariz.
_ Gente eu não estou aguentando mais. – disse o baixinho quase aos prantos.
Foi um desespero. Todo mundo esmurrando a porta e gritando.
_Pelo amor de Deus, sejam rápidos. O pior está para acontecer.
A madame sacou de um perfume francês que só devia ser utilizado em ocasiões especiais e apertou várias vezes. A princípio deu resultado. Mas como o baixinho prosseguia no envio de mensagens, a guerra foi perdida. E como tudo que pode piorar sempre piora.
_ Vocês vão ficar sem luz por alguns momentos. _ a mesma voz anterior deu a má notícia.
Mais uma vez bateu o desespero:
_ Pelo amor de Deus. Sem luz e com este aroma aqui dentro não vai dar._ disse a madame.
_ Rápido. Há crianças e mulheres aqui em situação de risco – gritou aquela que estava acima do peso.
_ Ah, Meu Deus! _ urrou o baixinho ao mesmo tempo em que a luz se apagou.
E tome de todo mundo bater na porta do elevador e gritar desesperadamente por socorro, enquanto os gemidos do baixinhos estavam mais intensos. Em pouco tempo o silêncio se fez.
Alguns minutos depois a luz voltou e o elevador abriu a porta no 10º andar. A brigada de incêndio do prédio estava a postos. Uma a uma as pessoas foram saindo com a cara de torcedor brasileiro após a goleada da Alemanha.
 
_ Está tudo bem? _ perguntou um brigadista _ Que cheiro horrível é este?
_ Bem... _ tentei explicar _ É uma mistura de mocotó de ontem, com perfume francês, suor e desespero...
Acho que aquele elevador ficou muito tempo fora de serviço...

Nenhum comentário: