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quinta-feira, 18 de junho de 2015

DA SÉRIE: HISTORINHAS DO BIFÃO...

O drama de colocar um 39 dentro de um 37...

         Você é convidado para ser padrinho de casamento. Aceita.  Afinal de contas, o casal é amigo da sua mulher. E a sua mulher é quem decide como vocês devem ir. Só por causa disso você já deve ser penalizado. Jamais, em tempo algum, deve deixar que decidam o que você vai vestir ou calçar. Isto é pessoal e intransferível.
         Mas ele deixou a mulher escolher. Na sexta-feira à noite ela chegou com um sapato italiano legítimo. Muito bonito. Porém, havia um pequeno detalhe. “Pequeno” mesmo: o número era menor que o seu.
_ Eu calço 39. Isto aqui é 37. Há alguma coisa errada. Você não acha?
_ Eu achei lindo. _ disse a mulher cheia de razão. _ O vendedor disse que só tinha 37. E me fez um preço especial.
_ Tá,ele te empurrou o sapato. Mas como é que vou enfiar um 39 dentro de um 37? _ ele tentou argumentar. _ Teremos que trocar.
_ Não dá tempo. O casamento é amanhã de tarde. Pela manhã a gente tem de pegar a roupa dos padrinhos. Vai ter que ser esse mesmo. Ele é lindo. Italiano. Seus pés nunca calçaram um italiano. E só tinha esse.
         Italiano, inglês, baiano. Pouco importava. O negócio era o fato de o calçado ser dois números abaixo do seu.
_ Vai ser como colocar o Rio de Janeiro dentro de Niterói.
         No sábado foi aquela correria para se aprontar para o casamento. Principalmente a mulher. Diga-se de passagem, as mulheres (a maioria delas) deveriam começar a ser arrumar com um dia de antecedência. Talvez, dessa forma, elas conseguissem estar prontas com apenas meia hora de atraso.
         Só Deus sabe como ele conseguiu calçar o número 37 no pé 39. Mas conseguiu. Chegou à igreja já querendo tirar os sapatos. Mas não havia como. Era um dos padrinhos. Estaria à vista de toda a igreja. Por isso, nada feito.
         Nos primeiros 30 minutos pensou em matar a mulher. Mas isso teria que ser feito lentamente para que ela sofresse como ele estava sofrendo. Porém, o seu ódio voltou-se para a noiva. Logo naquele dia ela resolveu atrasar. Tudo bem que toda noiva costuma atrasar. Mas vai daí a cretina atrasar uma hora e meia já era a título de sacanagem. Os seus dedos estavam tão dobrados que achava que eles nunca mais voltariam à posição normal, nem mesmo se fizesse uma massagem como “Viagra em gel”.
_ Não estou aguentando mais? _ falou para a esposa.
_ Segura à onda. Daqui a pouco acaba.
_ Daqui a pouco? Esse desgraça de casamento nem começou.
         Bom, com a chegada da noiva, o casamento deveria terminar em pouco tempo. Pelo menos era essa a esperança dele. As dores estavam ficando insuportáveis. E seu desespero aumentou quando o pastor resolveu fazer uma pequena explanação ante da cerimônia propriamente dita. Para aumentar o sofrimento dele, a pequena explanação do pastor parecia um resumo de todos os livros da Bíblia. Levou quase uma hora.
_ Meu Deus, se ele demorar mais um pouco, vai ser o “apocalipse” dos meus dedos. Desejaria que o dilúvio acontecesse novamente e eu morresse para me aliviar dessa dor.
_ Deixa de ser dramático. _ disse a mulher.
_ Dramático? Essa joça que você comprou é dois números menor que o meu pé. Não é drama. É desespero de causa.
         E o casamento não acabava. Estava quase dizendo que tinha algo contra aquela união, só para terminar a cerimônia. Estava pedindo a Deus que mandasse um raio direto nos pés dele. Assim, estaria livre da dor.
         Lágrimas brotavam dos seus olhos. Os convidados presentes à igreja, os demais padrinhos, todos achavam que ele era muito sensível e estava emocionado com a cerimônia. Mal sabiam do drama que vivia.
Três horas e meia de casamento (contando com o atraso da noiva).
_ O pastor não tem mais nada para fazer, não? Meu Deus, acabe com esse casamento ou acabe com a minha vida.  Os meus dedos já querem se separar do restante do corpo, em represália ao que estão sendo obrigados viver.
         Alguns minutos depois ficou feliz ao ouvir o pastor dizer, vão em paz. A sua dúvida era saber se conseguiria andar novamente, após ser exposto ao que passou, durante horas, não sabia se sairia Dalí em cadeiras de rodas.
         Deixou a mulher no local da festa, foi em casa voando, pegou um par de chinelos e voltou para o salão. Aproveitou o fato da toalha da mesa ser comprida, retirou os sapatos e calçou os chinelos. Nunca ficou tão feliz em realizar um gesto tão simples quanto calçar chinelos.

         Quase todos os convidados fizeram questão de cumprimentá-lo pela emoção que deixou transparecer durante a cerimônia, inclusive os noivos e os pais deles. Mal sabiam que não se tratava de emoção. Era dor mesmo...

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