A Dieta de Páscoa
O médico decretou:
_ Ou você emagrece ou
vamos ter que fazer uma redução radical de estômago.
_ O que é que o
senhor quer que eu faça? _ perguntou meio choroso...
_ Uma dieta radical.
Vamos comer mais verde. Alface, agrião, chicória, repolho...
_ Ótimo. O senhor não
quer logo me colocar uma sela e me mandar para um aras, já que vou ter de comer
igual a um cavalo?
Apesar de todas as reclamações teve que seguir o conselho médico e diminuir a
quantidade de alimentos que “mandava para dentro”.
_ Para ser solidária
vou fazer a mesma dieta. _ disse a esposa.
_ Se for para morrer,
por que ele não me empresta o bisturi para cortar logo os pulsos? Se for para
ter uma morte cruel, por que ele não me manda subir o morro correndo e
gritando: “corre cambada”. A UPP tá chegando? Se for para ter uma morte
desastrosa, por que não me manda descer a Serra das Araras com o carro sem
freio?
_ Deixa de disso. Uma
dietinha não vai lhe fazer mal.
_ Não? Ele mandou cortar
mais da metade da carne vermelha que estou acostumado a comer.
_ E o que tem demais, homem?
_ O que tem demais?
Você está casada comigo há tanto tempo e ainda pergunta isso? Quando eu vejo
uma vaca ou um boi, já fico retalhando o bicho mentalmente. Churrascaria é
quase um prolongamento da nossa casa. Os garçons me consideram quase como
um irmão. E você acha que pra mim é fácil dar adeus a uma alcatra, a um cupim,
a uma chuleta, a uma costelinha bem passada?
_ Ele te deu a opção
de comer frango grelhado, peixe... _ argumentou a mulher.
_ Nossa! Ele colocou
tanto peixe na dieta, que estou quase me sentindo Iemanjá e indo morar no mar.
Daqui a pouco vou começar a aceitar oferendas.
_ Meu Deus, que homem
frouxo.
_ E o tal de frango
grelhado? Três vezes por semana, para revezar com o peixe. Daqui a pouco vou
subir no poleiro e ficar cacarejando todos os dias às quatro da manhã.
_ É para o seu bem.
_ Meu Deus. Você não
sabe o quanto é sacrificante para um gordo largar velhos hábitos. Ele cortou
até o meu pão francês quentinho com manteiga do café da manhã. _ O cara era o
desespero em pessoa. _ Onde é que eu assino para autorizar que me façam logo
uma eutanásia?
_ O segredo da dieta
que ele passou e comer mais em menor quantidade. De três em três horas.
_ Bolachinhas? Uma
fruta? Meu estômago já cortou relações comigo. Ele já disse: “Acabou o Amor”...
_ jogou-se no sofá. _ Esse médico é um sádico. Ele quer me ver secar
impiedosamente. Ele podia ir tirando as coisas lentamente. Não tirou a comida
da minha boca sem a menor cerimônia. Isso deve ser tática nazista.
_ Homem. Quanto
drama. Você tá parecendo enredo de novela mexicana.
_Estamos na Páscoa e
ele cortou o chocolate. Quer que eu vire um coelho? Vou passar a Páscoa comendo
cenoura? Virei o Pernalonga?
_ Você está hilário.
_ Você é que não sabe
o que é que estou sofrendo. O Virgílio da churrascaria me considerava um “vip”.
E agora? É capaz de nem me deixar passar na calçada. Seria uma péssima
propaganda para o estabelecimento dele.
_ Deixa de besteira.
Segue a dieta, perca peso e daqui a alguns meses você vai poder voltar a uma
churrascaria. Mas com moderação.
_ Pedir para um gordo
ter moderação na churrascaria é o mesmo que pedir para criança não querer todos
os brinquedos de uma loja. _ olhou seriamente para a mulher. _ Compra logo o
caixão, adianta a papelada do meu seguro de vida e encomenda o seu vestido de
viúva. Ao final dessa dieta estarei na terra dos pés juntos.
Por fim, apesar do drama, o inevitável ocorreu, ele entrou na dieta, não morreu
e hoje até disputa corridas de pequenos, médios e longos percursos.
_ É sempre assim. _
diz a mulher dele. _ Gordo adora fazer drama na hora da dieta...
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